
A falta de respeito com as mulheres no ambiente de trabalho vem se tornando constante no estado do Amazonas. Marcella Nascimento, ex-recepcionista de um escritório jurídico, acusou o advogado Francisco Charles Garcia Junior de estupro. A vítima fez um boletim de ocorrência no dia 7 na Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher e no dia 16 compareceu ao 12° DIP (Distrito Integrado de Polícia) para falar sobre o caso e sobre as acusações de extorsão feitas pelo acusado, Francisco Charles.

Marcela contou que trabalhou por onze meses no escritório de Garcia e relatou que neste período sofreu constrangimentos frequentes, como xingamentos supostamente proferidos pelo advogado. Ela descreveu o ambiente de trabalho como hostil, o que, segundo seu depoimento, a deixava em constante estado de insegurança e medo.

A vítima relatou que no dia 7 de abril, ao entrar na sala de Garcia, o advogado estava despido vendo vídeos pornográficos com uma arma e um pó branco na mesa. Conforme seu relato, o advogado supostamente a coagiu a se ajoelhar e praticar sexo oral. Marcela disse que tudo isso começou quando a esposa de Garcia se afastou do escritório para tratar de um câncer.
PASSADO

Em 2015, o Garcia, que é sobrinho do ex-prefeito de Parintins, foi o mais votado durante uma eleição no Tribunal de Justiça do Amazonas, na época, muitos associaram a vitória pois ele era “sobrinho” da esposa do prefeito da época, Arthur Virgílio e amigo pessoal do ex-governador José Melo.

Nessa mesma época, o próprio Garcia veio a toma informar que não contou com ajuda do ex-prefeito e nem do ex-governador.
“Não entendi o motivo da desconfiança da minha votação. Não tive ajuda nem do Arthur (prefeito de Manaus) nem do José Melo (governador). Aliás, não falo com o prefeito há muito tempo. Ajudei ele na campanha (de 2012), dei meu sangue na campanha, e ele não tem me ajudado com nada. Mas não quero falar sobre esse assunto, porque é um caso interno, de família”, afirmou o advogado a época ao veículo de comunicação local.
Agora, no caso de estupro, Garcia acusou a advogada de Marcella, Adriane Magalhães, de querer “ganhar dinheiro ilicitamente” em cima do caso.
O suspeito disse que lhe foi pedido R$ 500 mil para “silenciar a suposta vítima de assédio” e que ele foi alvo de ameaças caso não pagasse o valor. De acordo com Garcia, tudo isso seria Adriane para tentar “alavancar a sua candidatura à vaga de desembargadora reservada à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM)”.

Em nota, a advogada de Marcella disse a revista Cenarium que a alegação de Garcia configura uma nítida tentativa de intimidação por parte do acusado.
Confira a Nota na íntegra:
“Na condição de advogada da vítima de estupro Marcela, venho a público esclarecer informações distorcidas e ataques levianos promovidos pelo Dr. Charles Garcia, que tenta desviar o foco da gravidade dos fatos por meio de estratégias que visam apenas descredibilizar a vítima e enfraquecer a busca por justiça.
Desde 2001, conheço Charles Garcia no âmbito acadêmico e social assim como Juliana que inclusive almoçávamos semanalmente com outras colegas advogadas. A proximidade entre nossas famílias nunca impediu que eu agisse com ética, responsabilidade e firmeza diante de qualquer denúncia grave, especialmente quando se trata de um crime sexual.
Ao tomar conhecimento do relato da vítima, meu dever profissional e humano foi agir com empatia e diligência. Procurei a esposa de Charles, Juliana, uma mulher pela qual sempre nutri amizade, respeito e admiração, inclusive por sua trajetória de superação pessoal. Em nenhum momento foi solicitada qualquer quantia a ela ou a Charles. Minha postura sempre foi pautada pela transparência e pela legalidade.
Diferente do que tenta se fazer crer, foi o advogado do próprio Charles, Sr. Lúcio, quem procurou minha cliente e a mim na qualidade de patrona após o registro do boletim de ocorrência, propondo o pagamento de R$ 50 mil, supostamente para “resolver questões trabalhistas”. Reafirmo que jamais houve qualquer proposta de acordo no âmbito criminal. O crime de estupro é de ação penal pública incondicionada, e não comporta tratativas extrajudiciais.
A alegação de extorsão apresentada dias depois, em 14/04, configura uma nítida tentativa de intimidação, típica de quem busca inverter os papéis, tratando a vítima como culpada e tentando calar sua voz. Questiono: se a suposta extorsão realmente ocorreu, por que Charles e sua esposa não a denunciaram imediatamente? Por que só após dez dias da vítima prestar depoimento na delegacia e o caso ganhar visibilidade?
Esse tipo de manobra, infelizmente comum em casos de violência sexual, tenta transformar o agressor em vítima e deslegitimar o discurso da mulher que denuncia. Não aceitaremos esse tipo de narrativa, nem permitiremos que estratégias midiáticas obscureçam a realidade dos fatos.
As provas que confirmam a versão da vítima estão sendo devidamente apresentadas às autoridades competentes. Estamos convictos de que a verdade prevalecerá e que o sistema de justiça saberá distinguir os fatos das tentativas de manipulação.
Reafirmo meu compromisso com a legalidade, com a ética e, acima de tudo, com a luta pelo respeito à dignidade das mulheres. Seguiremos firmes na defesa da vítima e de todas aquelas que têm coragem de romper o silêncio.”